segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Barcelona: um modelo a ser copiado



O jogo de domingo passado entre Barcelona e Santos foi uma aula de tática, técnica e preparo físico.
É claro que o Santos ajudou, não jogou absolutamente nada, ficaram com medo, nem faltas eles cometiam, e quando acontecia, pediam desculpas. Estavam totalmente submissos ao adversário, fracos e covardes, mas de qualquer maneira, jogavam contra o melhor do mundo, time ainda imbatível, talvez o melhor de toda a história do futebol de clubes. Ou alguém já viu um time melhor que esse?

Todos sabem que o Barcelona está repleto de craques, jogadores do mais alto nível técnico, mas eu diria que não é por conta disso que eles fazem tanto sucesso, porque mesmo com craques, eles jogam simples, sem firulas e malabarismos.

Aqui no Brasil se costuma dizer que craque não precisa marcar, que o camisa dez tem que ficar livre, sem se preocupar com a marcação do adversário. O Barcelona faz exatamente o contrário, todos marcam, todos correm, todos tocam, por isso ficam com quase 80% de posse da bola. Quando perdem, logo recuperam porque sempre estão correndo, marcando na pressão, essa a principal arma desse time: correm no rumo certo.

Diferente do Santos, quando o Barcelona tinha que bater um tiro de meta, ao invés de dar um chutão, saia jogando com os seus laterais, quando precisava, voltava à bola, sem presa, mas com objetivo. O time adversário dá chutão porque todos os jogadores estão marcados, o Barcelona faz os adversários jogarem assim. No domingo, o Santos poderia fazer o mesmo, mas não tinha preparo física pra isso, nem esquema tático. Os zagueiros estavam mortos, os laterais na chegavam nos meias, o Ganso andava em campo.

A rapidez no toque de bola é outra arma do Barça. Notem como eles não deixam o adversário chegar perto da bola, tocam rapidamente, diminuindo as chances de erro, de perderem a bola. Eles driblam, mas só quando precisam. Aqui no Brasil é bem ao contrário, recebemos a bola, esperamos o marcador chegar, perdemos o ângulo para o passe e recuamos para o goleiro, que na pressão, chuta a bola pra frente. Já diria os antigos: quem deve correr é a bola.


O Messi, considerado melhor do mundo, é cobrado como qualquer outro jogador, tem que correr, dar carrinho, marcar. Aqui no Avai, por exemplo (tinha que falar do meu Avai), um jogador como o Marquinho, considerado “craque”, pode fazer o que quer, não precisa marcar, correr, porque é considerado um jogador diferencial. Está errado, se ele não marca, não corre, o outro time ganha mais um espaço no campo, é matemática. 

Até a nossa crônica esportiva, muitos deles, dizem que tem jogador que não deve marca, não é a função dele. Se temos onze contra onze, e alguém não marca, alguma coisa está errado, não? Tomara que com o jogo deste domingo alguns tenham mudado de opinião.

De todos os times que tenho visto jogar, ouso afirmar que um dos que pode fazer frente ao Barcelona é o Universidad de Chile, esse mesmo, sem brincadeira. Eles correm parelhos ao Barcelona, são muito aplicados na marcação. Não é por nada que está há muito tempo sem perder. O Universidad não tem a mesma qualidade técnica do Barcelona, mas a tática e física funcionam. Aliás, esse deve ser o representando da América do Sul pra disputa do mundial do ano que vem, escreve aí!

Te todo o modo, o Santos não deixou de ser um bom time, só que o Barcelona é um time ótimo.

Fazer o que o Barcelona faz é difícil, mas longe de impossível, basta que os times invistam em longo prazo, nas bases, na gurizada.

Ainda fico achando que o Neymar é o melhor do mundo no quesito individualidade, mas uma andorinha não faz verão.


p.s. eu lamento muito que o Ganso não é mais aquele jogador

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Phunky Buddha - um disco pra impor respeito

Uma banda que marcou a história da música autoral nos anos 90 foi a Phunky Buddha, que fui e continuo fã.

Esses dias, vasculhando os discos lá em casa, achei um da Phunky Buddha, aquele que provavelmente você não conhece (esse da foto), foi pouco divulgado, lançado (na verdade relançado) no dia 17 de setembro de 2000, no antigo Café Cancun.
Eu não lembro se naquele ano fizeram alguma lista dos melhores cd’s do ano, com absoluta certeza estaria no topo.

O disco produzido por Gustavo Barreto, Ulysses Dutra, Jorge Gómes e Alexandre Gonçalves, é caseiro e certeiro: é uma pancada nos ouvidos. Diferente de tudo que existia por aqui.
 Naquela época sonhávamos em produzir um cd “aveludado”, em um grande estúdio, com timbres modernos e com som nítido. Phunky Buddha soou diferente, sujo, berrado, distorcido, mas muito bem arranjado. Até erros de edição é possível encontrar, mas você nem nota, a música de envolve. James Brown, Chico Science, The Meters, Nirvana, Red Hot, também possuem cds com erros e dizer o que? São ruins?
Escutando o disco dá pra perceber que os meninos (na época) não tinham a pretensão de gravar um cd pop (até pode ser), produziram um cd como gostariam que fosse. Mesmo com as divergências pessoais, o que é normal, o cd da Phunky Buddha saiu com a cara do show da Phunky Buddha, e isso sim é difícil.
O Alexandre com aquele bumbo maluco, duzentas figuras por compasso, e a voz grave. O Jorge com o music man estralado e o slap soltando pelas caixas de som. Ulysses e seus solos pancadões, e o Barreto, que além de segurar o groove da guita, puxava o motor com a voz rasgada. Como ele é bom nisso.
Letras engraçadas e arranjos mirabolantes deram o norte pro disco. Águas Claras, Seja Livre, Lucinda, Hyerofante, Aphrodiziadzein, Deus e o Diabo, Abirubê, Tapete Mágico, Tamanduá, Belzebu, Folha no Vento, Mamangava e Lunático, fizeram parte da trilha sonora da geração Café Matisse e Casa da Lagoa. Que época boa! Sem falar de Movimento, Cochabamba e Fogo e Sangue, que entrariam num próximo...
Tenho quase certeza que os músicos do disco não devem gostar muito do cd, é sempre assim, hoje gostariam de fazer diferente, mas não ficaria tão bom em sua essência.
Eu sempre me pergunto por que a Phunky Buddha não deu certo? Era uma ótima banda, com músicos excelentes, músicas boas. Dez pessoas assistiam ao show da banda e onze falavam bem. Por que não deu certo? Será que algum dia alguém vai conseguir viver de música autoral em Florianópolis? Infelizmente, eu não acredito mais no autoral como um único sustento, mas que os novos continuem acreditando, o que eu não posso é continuar acreditando numa ilusão.

p.s. quando falo que não deu certo, me refiro à auto-sustentação de uma banda com música autoral. Da venda de seu produto. O Phunky Buddha deu certo pra mim e pra muitos. Deu certo como arte!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

domingo, 28 de agosto de 2011

Scarpelli: salão de festa do Avai

Hoje acordei cedo, por volta das sete horas da manhã. Estava muito feliz, sabia que às dezoito horas tinha uma festinha lá no estreito, onde sempre me divirto muito. Não deu outra, estava de arrebentar, que diga o Willian, meu grande amigo.

Por volta das nove horas, alguns companheiros me chamaram para assistir um vídeo do dono do salão da festa, e segundo eles, era para que chegássemos sabendo onde pisar, como e com quem dançaríamos. Eu e Willian não fomos, ficamos para assistir a fórmula 1, o que pra nós era muito mais interessante, principalmente com o Bruno Senna largando em sétimo, se bem que fez besteira logo na largada, bateu em outro carro. É como esses times pequenos que tem por aí, ganham alguns jogos e acham que já estão na libertadores, que vão atropelar qualquer um.
Logo chegou o meio dia e resolvemos almoçar. Nem assistimos o Globo Esporte, não queria saber de futebol naquele momento, não vimos necessidade, a festa era só as dezoito e segundo o Willian, naquele pequeno salão é fácil de jogar.
Depois do almoço, por volta das duas da tarde, lá vieram eles com papo de palestra, que tinham mais um vídeo pra passar, queriam mostrar alguns passos dos dançarinos do estreito, a marcação, finalização. Eu olhei pro Willian, ele olhou pra mim e disse: não né, deixa a gente curtir a temperatura máxima.
Com o fim da palestra, alguns companheiros se juntaram a nós e começamos assistir um joguinho na TV, Flamengo e Vasco. Puta merda, que jogo ruim, fraquíssimo. Nem parecia dois times brigando pela ponta da tabela. Perguntei pro companheiro Lincoln como foi palestra e ele disse que ficaram contando piada, que o professor faltou e não assistiram vídeo algum. Melhor pra eles.
Quando já eram dezessete horas, vieram nos chamar para o ônibus. Eu disse pra eles que estava cedo, não queria varrer o salão, mas como insistiram, fomos todos juntos, fazendo um sambinha, jogando um dominó e apostando umas cachetas. Olha, ganhei uns quinze pilas. O Willian ganhou trinte e sete reais, tava todo faceiro, tava dizendo que iria arrebentar na festa, que hoje não tinha pra ninguém.
Chegamos ao salão. O nome era Orlando Scarpelli. Fomos pela parte da frente, vimos um bocado de gente, todos de preto, parecia um show de heavy metal. Eles nos vaiavam, xingavam e aquilo nos dava força. Logo que chegamos na entrada de trás, num cantinho bem apertado, começamos a ver alguns parceiros, todos de azul, cor do céu, a coisa mais linda.
Exatamente às dezoito horas começou a festa. Claro, com respeito aos donos do salão, deixamos eles bem à vontade, demos um bom espaço, estavam em casa e muitos estavam lá para vê-los. Pagaram muito caro!
Durante toda a semana, todos eles, aqueles de preto que cruzamos na entrada do salão, diziam que seria uma grande brincadeira, que nos chamariam pra dançar, uma, duas, três, quatro, até cinco vezes, que tinham a melhor equipe, o melhor professor, a melhor pista e estavam mais bem posicionados.

Dentro de toda essa pressão e falácia, deixamos um tal de Ygor tirar a primeira dança, queríamos testar aquele pessoal. Foi muito chocho, precisou da ajuda do nosso companheiro Felipe. Em seguida, nosso auxiliar técnico, que ao lado da pista nos passava orientações, disse pro companheiro Pedro Ken fazer um pênalti e forçar a segunda dança pro lado deles, queria sentir mais um pouco a competência daquele povo. Não adiantou, Julio Cesar, do pelotão de frente do time de preto, caiu de bunda no meio do salão, coisa horrorosa diria o amigo Roberto Alves.
Naquela oportunidade nosso auxiliar disse: Lincoln, mostra um passo para esses pregos. Não deu outra, nosso black-boy, Arlan, tocou o terror pelo lado direito e encaixou uma música na medida para o nosso camisa dez deixar sua marca e pedir silêncio. 
Antes do pessoal parar para descansar, principalmente eles, que estavam exaustos, aquele menino que havia caído de bunda, de tanto encher o saco, conseguiu enfim encaixar um passo, e mais uma vez com a ajuda do Felipe. Foi engraçado, no vestiário o Felipe dava risada e disse: o cara teve que tentar três vezes.
Tomamos água, e olha que aquela água tava ruim, e voltamos pro salão. Eles vieram loucos, loucos, não sabiam que passo dar, os únicos dois que tinham no repertório já haviam executado e nem cristo dava jeito de acertar outro. Se tivessem assistido a dança dos famosos no Faustão, teriam chegado mais perto.
Nosso garoto, formado na categoria litle-funk, o Arlan, estava endiabrado, foi pra cima e não tinha pra ninguém. Numa daquelas corridas arrebatadoras, foi na linha de fundo do salão e cruzou para o Willian, o maior goleador do pedaço, empatar a disputa. Foi do seu melhor jeito, na raça.

Depois que empatamos, os donos do salão ficaram “demonhados”, corriam pra um lado, corriam pro outro, enlouquecidos. O treinador deles estava rouco de tanto berrar: balé não, balé não, porra!
Num piscar de olhos o juiz marcou uma falta a nosso favor. Lá veio o Romano cobrar. Ele não estava bem, precisa ensaiar mais tango pra jogar em nosso time. Com a perna esquerda ele manda o som. Willian, como se estivesse no quintal de sua casa, dá um lindo giro de cabeça e sai correndo pra comemorar a vitória. Nosso pessoal de azul berrava: aha, uhu, o Willian é matador!
Horas antes ele me confessou: deixa quieto, nunca perdi uma disputa no estreito, adoro dançar naquele lugar. Vou soltar o batoré.
Final das contas vencemos por três a dois, sem grandes problemas e com a mesma eficiência de sempre, pois aquele é nosso salão de festa.
Muito prazer, meu nome é Avai!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Distorcendo o preconceito

Há um mês atrás fui no mercado comprar algumas coisas, eu e Bernardo, meu filho mais novo, de um ano e oito meses. Comprei o que precisava e como era no final da tarde, fui na padaria tomar um café.
Havia uma fila no caixa. Fui direto no balcão porque queria comer no local e estava com o Bernardo no colo. Na fila do caixa estavam algumas pessoas. Alguns iriam comer lá e outros comprariam para levar.  Uma moça muito simpática me atendeu. Eu perguntei se ela poderia me fornecer um café e alguns pães de queijo que depois eu pagaria. Ela disse que sim, sem problema.
Logo chegou um rapaz que ficou do meu lado. Notei que ele estava meio alterado. Acho que ele havia feito um pedido e estava demorando um pouco, o que é normal, algumas coisas demoram mais que outras.

Quando a menina me serviu o café, ele se alterou ainda mais, disse pra ela que ele estava na frente, que isso era uma incompetência, que estavam tirando onda com a cara dele, etc. Eu vendo aquilo, pedi pra ele ter mais calma e respeitar a moça. Daí ele soltou os cachorros, disse que estava na frente, que tinha o direito e ponto final. Eu volteia falar e disse: podes pegar o meu café, se for o caso, não tem problema, mas também disse que ele era uma tremendo idiota agindo daquele jeito.
Depois disso, ele começou a falar mais alto e mais alto, até que disse que eu e a menina estávamos agindo assim porque ele era gay, que isso era preconceito, blá, blá,blá! Quem chegava naquela hora e ouvia aquele tremendo babaca falando tamanha besteira, era capaz de acreditar, pois o que ele queria era se sair como vítima, usar sua opção sexual como um escudo por estar errado. Olha, nem eu e nem ela sabíamos que ele era gay e se era, qual o problema? É gay e não pode receber uma dura? Ele é doente? E a menina do balcão, que é negra, daí ele não está praticando um preconceito? E eu que estava com um bebê no colo, será que não é um preconceito contra o pai?
Acho que não é assim que vamos combater o preconceito. Alguns querem banalizar, como se tudo fosse proibido, como se tudo estivesse errado, usando disso para esconder determinadas posturas.
Tenho muitos amigos gays, lésbicas, negros, brancos, homens, mulheres e o respeito que tenho por eles é o mesmo que peço pra mim.
Não é deixando de cobrar do negro ou do índio ou de qualquer pessoa, que vamos praticar a justiça. A palavra é incluir! Incluir no amor, no dever, no trabalho, no respeito, na discussão, em tudo. Então sou gay e tu não pode brigar comigo?
Minha conclusão é que naquele dia tive o desprazer de conhecer uma PESSOA sem o menor respeito pelos outros, preocupado em usar sua opção sexual para fingir ser frágil e com isso obter privilégios. É a corrupção da mente.
Não importa se ele é gay, homem ou mulher, respeito é respeito, sem privilégios.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um novo trabalho, uma nova história

No dia 29 deste mês, na Célula, uma turminha pra lá de bacana estará estreando um novo projeto em Floripa, Jean Mafra e Bonde Vertigem, que segundo eles afirmam: “é, no fundo, música pra dançar”.

Sou suspeito pra falar do Jean, é um dos meus melhores amigos e parceiro na música. Vivemos dez anos juntos com a SSC, e posso dizer que foi uma fórmula que deu certo, dois teimosos que, no final das contas, são bem parecidos.
Lembro do garoto de preto que visitava os ensaios da Left (uma antiga banda) só pra falar mal, que mesmo sem ter noção alguma de harmonia, ritmo, isso lá em 95, 96, já traçava suas composições sem medo de errar.  Era um Psicosapo!
Quem diria que aquele louco fosse virar artista. Virou!
O Jean acredita naquilo que faz e isso é o que mais dá força pra sua história.
Na mesma barca estão Ulysses, Cisso e Marcil, que formam o Bonde Vertigem.  Três caras com quem convivi muito no Clube da Luta e que como o Jean, faça chuva ou sol, estão aí pra briga.
É mais um novo trabalho pintando em Floripa, uma nova história se formando. Dia 29 estaremos lá, valorizando nossa música.
Diz pro amarelo da goiaba que não é gringo, mas é bom também.
Viva a música daqui!
Show Jean Mafra e Bonde Vertigem
Dia 29/07/2011
Célula – bairro João Paulo, 75
Ingressos antecipados a R$ 15 – Loja Varal centro

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Clube da Luta: uma cena estabelecida e agora fora de foco – parte two

Só pra deixar claro para algumas pessoas, a principal questão levantada no outro texto, é a falta do acontecimento. Em Floripa sempre existiram pessoas compondo, gravando, mas isso não é o suficiente para fomentar um mercado, ainda mais um que na existe. Temos que levar pra rua, para o público e isso o Clube fazia bem.
Reunir pessoas em prol de um objetivo, sempre será mais forte que o individual. O Clube da Luta, por mais repetitivo que ele tenha ficado, era um dos redutos da música, da cultura de Florianópolis, e hoje não temos esse ponto de encontro, a não ser que me provem o contrário.
Tu não vê uma banda mandando um email para o seu mailing/publico divulgando o show de outro grupo. O Clube fazia isso, ao contrário do que se viu e do que se vê hoje.

O Clube reuniu, adquiriu respeito e deu um rumo para a música autoral, mesmo que pouco, mas deu. Fomos longe dentro do horizonte de floripa, tocamos no Planeta Atlântida, por exemplo, porque estávamos unidos e mostramos pra eles que merecíamos respeito.  
Não falo do Clube querendo que ele volte, falo porque acredito, sinceramente, que unidos podemos ir longe, separados não.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Clube da Luta: uma cena estabelecida e agora fora de foco

Falem o que quiserem, mas a cena musical de Florianópolis era bem mais feliz nos bons tempos das batalhas do Clube da Luta. Era bom, bonito e barato.
Pra muitos era a panelinha de algumas bandas. Só tocavam os amigos (mentira). E se fosse, qual o problema? Deu certo, movimentou, mostrou pra floripa a música feita aqui. Alguns conheceram de perto, outros de longe, mas todos ficaram sabendo de algum jeito. O Clube ajudou até bandas que não faziam parte da “panela”, pois era a música autoral de SC antes de mais nada.
Tinha gente que torcia contra, simplesmente por não fazer parte, e isso é um problema da nossa cidade. Alguns não gostam que outros se destaquem. São os mesmos que torcem para que floripa seja eternamente uma província.
Muitas bandas surgiram e outras se estabeleceram por conta do Clube da Luta. Maltines, Aerocirco, Da Caverna, SSC, Sociedade Soul, Tijuquera, entre outras, devem muito ao Clube e ao seu público. Foi nele que se fortaleceram, ganharam cancha de palco e mais maturidade, mesmo que o Clube fosse e continua sendo, um verdadeiro ensaio aberto, sem frescuras ou palhaçadas.
Lembro bem de shows da Aerocirco com meia dúzia de gatos pingados. Um ano depois, faltava espaço para tanta gente. Só tem um por que: música boa. O problema é que poucos conheciam. É aquela máxima que sempre defendi: estamos cheios de bons produtos, mas sem mercado, sem prateleira.
Posso estar enganado, mas o fim de algumas bandas, e as mudanças em outras, também está ligado ao fim prematuro do Clube da Luta. Alguns vão me perguntar: mas tu não disse que não acabou? Sim, não acabou, mas mudou muito. As bandas se preocuparam cada uma com sua vida e foram parar na UTI. Sozinhas não vão muito longe. Devemos nos preocupar com nossos trabalhos, mas também com de nossos amigos, porque só assim pra estabelecer uma conexão forte na música local. Se a banda amiga está bem, a tua também estará. Somar e não diminuir.
Não pense que algum produtor, dono de bar ou meio de comunicação irá se preocupar com o teu trabalho, com a tal de cena, eles estão preocupados com o retorno que isso dará, mas este é um outro papo.
Olha hoje, o que está acontecendo? Quantos shows com as bandas locais tem acontecido em Floripa?  Os jornais nem mais falam da música daqui, ou estou enganado?
O Clube funcionava como um velho boteco, que além da cerveja e cachaça, tu assistia um show de música autoral, batia um papo e discutia se necessário.  Estava lá, acontecendo! Era repetitivo? Sim, mas qual o problema? Repetitivo é tu ter que ficar em casa escutando cd sem conversar com ninguém.
Enfim, o papo é longo.

Abraço!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Nesta sexta-feira tem uma festinha bacana na Célula, é o Arraiá Rock, com Samambaia Sound Club e Andrey e a Baba do Dragão de Komodo, a partir das 23h.
O ingresso custará só R$ 5 pilas.
O dj será o Zé Pereira.
Vamos lá pular a fogueira, montar a quadrilha e comer pinhão!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Uma morte que vem se anunciando


Para algumas pessoas é mais fácil falar mal do time que torce do que bem. Eu não gosto, queria falar maravilhas, mas no caso do Avai de hoje, aquele que jogou contra o Bahia, ontem, não dá.
Sou um torcedor que sofro durante o jogo. Pulo, berro, xingo e vibro com o gol. Ontem, por mais torcedor que eu seja, fiquei com raiva.
Quando o Galo chegou, comentou que o Avai estava sem preparo físico, ele tinha toda razão. No jogo de ontem, com trinta minutos do primeiro tempo, todos os jogadores estavam com a boca aberta, com falta de ar, com o freio de mão puxado. Isso é um absurdo, se tratando de um time profissional de série A. Tudo bem, não podemos exigir que determinado jogador dê um balãozinho, faça um gol de letra, isso depende da técnica individual de cada um, mas se tratando de preparo físico, todos precisam estar 100%, é obrigação do ATLETA.
Ontem escutei em algumas rádios que o culpado do jogo foi o Rafael Coelho, que o lance foi o gol que ele perdeu. Tudo bem, ele poderia ter marcado, mas isso não apaga os dois gols bestas que o Avai e sua saga tartaruga tomaram. Ora, o Rafael fez um gol e colocou o Avai na frente, fez sua parte. No primeiro contra ataque, a zaga toma um gol porque é lenta. O Gustavo Bastos, que marcava o segundo homem, o mesmo que fez o gol, estava correndo atrás, como se não fosse com ele. Minutos depois, a mesma coisa, lentidão no lado direito do Avai e gol do Bahia.
O Avai já tomou 22 gols no campeonato, a segunda pior defesa tomou 15. Será que o treinador não vê que o problema está na saga, neste miolo? Será que ele vai insistir em jogar com dois zagueiros mesmo tomando tantos gols assim? Isso é burrice e teimosia. O problema do Avai é tomar gol, está na cara. Se faz quatro gols em duas partidas, beleza, ataque matador, mas se toma quatro, é porque o esquema está errado.  É o que está acontecendo.
O Avai tem alguns jogadores que não podem estar na série A, como o lateral direito, Daniel, o atacante Fábio Santos, Maurício Alves. Por incrível que pareça, o Batista fez falta. Nós não temos nem o catimbador, que segura à bola na mão antes do adversário bater a falta, que dá de dedo no juiz, que faz as malandragens necessárias. Futebol é isso. Nem o Wilian está mais preocupado, pelo menos é o que parece.
Já se foram oito rodadas e o Avai cada vez mais distante do quinto colocado, que é nosso ridículo objetivo, sair da zona de rebaixamento.
Como diria o manezinho, a vaca está no brejo e cada vez mais atolada. A morte na série A está chegando, o buraco está cavado e o coveiro doidinho pra trabalhar.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Dunga, a Globo e o Mano

Domingo começa a Copa América. O Brasil, como sempre, é um dos favoritos ao título, ao lado de Argentina e Uruguai.
No domingo vamos ver se a seleção do Mano, que tantos elogiam, vai fazer valer dentro de campo. Até agora, nos amistosos, não mostrou nada, está bem abaixo da seleção de Dunga.
Falando em Dunga, ele ganhou quase tudo que disputou, só não a Copa do Mundo. Foi campeão da Copa América dentro da Argentina, da Copa das Confederações, e ficou em primeiro lugar nas Eliminatórias. Foi um técnico ruim? Não, é só ver os resultados.
O Dunga foi sacrificado principalmente por um aspecto: tratou a Globo igual às outras emissoras e isso é cruel. Depois que ele mandou o papagaio de pirata da Globo, o Escobar, tomar, eles decidiram tirar o Dunga. Imagina um técnico de seleção não dar entrevista pra Globo, sem dar arrego pro Galvão, é o fim. Com o Collor foi igual.
Tecnicamente e taticamente, ninguém fala mal do esquema dunguiano, foi sucesso. Ganhar da Argentina em Buenos Aires é mais difícil que ganhar uma Copa do Mundo, pode apostar.
Eu fui um que falei mal dele, odiava aquela seleção de jogo feio, mas quando olho os números, paro de falar.
Me aponta uma seleção campeã mundial jogando bonito? Hoje o futebol é burocrático e estratégico.  Tem gente que elogia a Argentina pra falar mal da seleção brasileira, como se a Argentina jogasse bonito.
Domingo temos Neymar e Ganso, dois dos melhores jogadores do mundo, que com certeza darão uma pitada de charme ao time. Mas se não ganhar a Copa América, valeu a pena?
Acho que no final da Copa vai ter gente dizendo: que saudades do Dunga!


p.s. o dunga tinha outro problema, ele não usava a roupa do patrocinador na beira do campo, usava as roupas desenhadas pela filha.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

São José das enganações imobiliárias


Em 2009, o prefeito de São José encaminhou projeto de lei para a Câmara de Vereadores, que aprovou, com o seguinte texto: “Autoriza o chefe do executivo a permutar parcela de terras pertencente ao município, por área edificada e a ser construída, destinada à futura "Policlínica de Barreiros", dando também outras providências”. Quando se escuta falar, parece a melhor coisa do mundo, mas depois, quando se entende melhor, nota-se que não é tão bom assim.
Nasci e cresci em Barreiros. Estudei, fiz amigos, joguei futebol e andei muito de skate na pracinha Antônio Schroeder, local do projeto.Também trepei muito nos pés de João Bolão, mas agora não é mais possível.
Contextualizando...
Há uns quinze anos, o poder público desocupou o último campo de futebol existente nessa região de Barreiros, o campo do América. Era um terreno que o falecido Coronel Américo doou pra comunidade montar um time. Enfim, sem muito esforço, conseguiram desocupar, interditar, e no lugar ergueram três prédios.
É a especulação imobiliária ganhando mais um jogo. Depois reclamam quando crianças usam drogas, andam ociosas na rua procurando o que fazer. E não venham me dizer que uma coisa não tem a ver com a outra. Pra onde vai lazer, pra dentro dos prédios?
Em 2007, se não me engano, após a morte da esposa do Coronel, a família providenciou a venda do terreno onde eles moravam, uma linda quadra, com fonte de água, inclusive.  Ficava uma rua ao lado do campo do América. A família estava errada? Não, estão agindo dentro da lei, a lei do capitalismo. Essa seria a atitude de qualquer um, não podemos ser hipócritas. Mas daí pergunto: o poder público não poderia comprar um espaço desse, lindo, único, para a comunidade usufruir? É caro? Não vale a pena? Será que isso não é tão importante que aplicar recurso em educação, saúde, ASFALTO? Às vezes escuto políticos dizendo que “devemos buscar os valores das famílias”, mas no fundo não estão nem aí.
Será que não vamos ver um prefeito em São José que não pense só em obras e tome providências que atinjam diretamente o meio, sem pensar na maldita reeleição? Agora está lá, mas três torres gigantes, um trânsito infernal e uma fonte de água com a “boca amordaçada”. Alguém perguntou o que a comunidade acha daquilo? Não, nunca perguntam.
 Agora vem a policlínica...  
Cresci jogando futebol lá em cima da praça, no barranco. Tínhamos um campo de areia, único da região. Todos os dias no final de tarde, íamos brincar de bola. No final de semana, fechávamos jogos entre Barreiros e Bela Vista, dava um bocado de gente.  De uma hora pra outra inventaram de colocar a Polícia Militar e disseram: pode deixar que o campo vai continuar aberto pra comunidade. Vai lá e tenta jogar bola, vê se eles deixam. Lá fomos nós de morro abaixo.
Lá embaixo, onde será construída uma policlínica, além de jogar futebol e basquete (quando tinha cesta) na quadra, também andávamos de skate, muita gente. Tudo bem que pra alguns eram todos vagabundos, mas lá estávamos nós, brincando de carrinho. Hoje vou à praça pra levar meus filhos no parque, eles preferem o ar livre que os parques fechados, mas acho que esses dias estão contados.
Ano passado, descobri que havia um projeto de lei (4926/2009 de 17/12/2009) aprovado na câmara para construir uma policlínica, e claro, me assustei. Ninguém na comunidade sabia, parecia que não deveriam saber. Se fizeram audiência pública, não fiquei sabendo, mas gostaria de ler a ata. Naquela hora eu pensei: uma policlínica pode ser bom porque a saúde do município está um lixo, e Barreiros precisa.
Fui atrás do projeto de lei na câmara para verificar como estava o texto. Achei estranho. Estava escrito que a prefeitura poderia permutar parcelas de terra do município para construir a policlínica. O que significa: irão dividir o pedaço em quatro partes, sendo que destes, 25% ficará para construir a policlínica e os 75% restantes, ficam com uma construtora que tem obrigação de fazer a obra. Claro, ganha de lambuja o restante do terreno. Como esta empresa será escolhida eu não sei, mas acho um absurdo, ainda mais se tratando do único espaço público da região.
Esta semana li uma matéria em um jornal de bairro, onde moradores estão dizendo que serão construídos dois prédios além da policlínica, edifícios em torno de onze andares. Alguns, inclusive, indignados, querem a policlínica, mas não aceitam os prédios. Dizem que o transito local já está insuportável, e que com a construção ficará pior.
Olha, desocupar uma área verde para construir uma policlínica já é bem contraditório, imagina permutar parcelas de terra. Absurdo!
O argumento da prefeitura vai ser o mesmo de sempre: na temos condições financeiras para construir uma obra dessa envergadura, temos que permutar. Pra mim isso é balela. O que é mais importante, construir a policlínica ou asfaltar ruas? Se gasta milhões para pavimentar ruas, e não tem dois milhões para construir uma obra com essa importância? Por que não construir uma boa policlínica, com um bom espaço de área verde para as pessoas usufruírem, sem ter que dar um pedaço de terra para uma dessas construtoras sangue sugas? Por que não ser diferente? Isso não dá voto? Cadê os cinqüenta milhões de recursos próprios tão divulgados nos out doors?
Se estão desocupando casas para construírem prédios nesta região, o que é lamentável, por que a prefeitura não compra duas casas e constrói a policlínica, deixando a praça para a comunidade?
Por que não fazem um palco para apresentações ao ar livre, isso é caro? Não tem como administrar? Não existe Secretaria de Cultura?
Até posso mudar de idéia, desde que a comunidade de Barreiros, na sua maioria e de forma democrática, aprove esta ação, o que não acredito.
Ainda há tempo, é só querer.
Enquanto isso, asfalto aqui, asfalto pra lá.
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p.s. fiz esse texto especialemnte pra alguns amigos que conhecem bem o pedaço, Coca, Goi, Rafinha, Jefinho, Fernando Negão, Zenk, Sandro, Fabiano, Luciano, Thiago, Jean, Rafael, Eduardo,  Bilico, Marlon, América, Tanaka, Paulinho, Guigo, todos que sabem do que estou falando.
p.s. seria interessante que o vereador do bairro esclarecesse bem o que foi aprovado, tendo em vista que ele era presidente da Câmara na época.
p.s. ter um blog é bom porque aqui podemos falar o que temos vontade de berrar.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A discussão eterna da cultura

Se tem uma coisa que me incomoda é ver tanta discussão sobre cultura e pouca ação cultural. Hoje fiquei sabendo que alguém do Ministério da Cultura vêm a floripa para discutir as políticas públicas da área. Tantos já passaram por aqui, outros irão passar e nada acontece, não tem jeito.
Eu não acredito que alguém está vindo de Brasília pra escutar o povo daqui e tomar providências concretas que beneficiem os artistas. Alguém pode dizer: mas o Guesser está sendo muito pessimista. Da outra vez que o Ministro esteve aqui, inclusive com a senadora e pré-candidata ao Governo Estadual (2010), Ideli Salvati, também se falou um monte de coisas, várias promessas foram feitas e nada, só purpurina.
Sinceramente, é melhor que os artistas sentem numa mesma mesa para planejar ações formiguinhas, unindo forças, sem esperar por algo dos governos. Eu sei que muitos já fazem, mas são poucos.
Aquele papo de Governo Independente funciona. De fato é possível fazer, mas precisamos estar juntos.

E aquele conselho da música que escolhemos para representar SC em Brasília, como é que está? O que deu?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

SP: uma viagem de risco

Em 2007, recebi uma ligação do SESC Pompéia dizendo que a Samambaia tinha sido selecionada para participar do projeto Prata da Casa, resultado de uma visita um ano antes, onde deixei vários materiais da banda. Na verdade, não acreditava que analisariam, fui surpreendido e lá fomos nós.

Na viagem, além da banda, eu, Thiago, Daniel, Jean e Jaguarito, foram juntos Cassiano Ferraz, fotógrafo e Robson, mas conhecido como “demonho”, nosso querido motorista.

Logo que fiquei sabendo do dia da apresentação e do cachê, providenciei de fechar mais dois shows em Sampa, para aproveitar a oportunidade. Além do SESC, a SSC tocou no bar Sarajevo e no Ton Ton Jazz. Nem te conto!

Lembro que na ida todos estavam dormindo porque era madrugada, inclusive o demonho, que acordou quando bateu num cone, dando esporro na banda porque estávamos dormindo. As vezes acordávamos e ele estava com a poltrona deitada assistindo filmes no dvd, que ficava na parte de trás. Mas tudo certo, estamos aqui, vivos, pra contar esses causos. O preço do demonho é imbatível, e no underground isso conta muito.

Para tocar no SESC tinha toda uma burocracia, liberação do ECAD, da Ordem dos Músicos, uma nota fiscal de pessoa jurídica que trabalha com cultura, um terror. É claro, a banda não sabia da missa a metade, nem tinha porque contar, o negócio deles era subir e sentar o sarrafo, sem se preocupar com os pormenores.

Tive que dar um laço na ordem dos músicos. Assinei uma declaração dizendo que os músicos, logo após o show, fariam a carteirinha da organização, só assim para liberarem nossa participação. O Ecad não tinha jeito, tivemos que pagar uma graninha pra eles, mesmo sendo uma apresentação com nossas músicas, fazer o que. O contrato, esse estava enrolado. Todos os contratos sociais de empresas que eu mandava, o SESC negava, não tinha jeito e a data estava cada vez mais próxima. Mesmo sem essa garantia, nós fomos pra lá, sem dinheiro, na esperança de tocar. Eles (músicos) não sabiam disso, agora estão sabendo.
Chegamos em SP, no SESC, lá vou eu procurar a diretora. Encontro a moça, uma pessoa atenciosa, que me diz:

Moça: André, vocês não podem tocar, o contrato não pode ser feito.
Eu pensei: Puta merda! Depois falei: veja bem, viemos de Floripa, nosso sonho é tocar no SESC Pompéia, etc, etc e etc.
Moça: olha, vou lá em cima conversar, vocês esperam, deixem os instrumentos no carro. Acho que vai ser difícil.

Voltei pra falar com os guris, ele todos felizes, deslumbrados com o lugar, que é lindo, e eu disse: tá tudo certo, só temos que esperar um pouco pra começar a passagem de som. Vai ser massa!
Eu ficava naquela, ia lá, voltava pra cá e nada. E eles perguntavam: e aí, algum problema? Não, tudo certo, tudo nos conforme.

Acho que o show estava marcado para às 19h, quando deu 17h30min, a dona moça me chamou lá em cima.

Moça: André, você sabe que vocês não cumpriram os requisitos. O pessoal aqui acha que não podemos deixar a SSC tocar, não estão com todos os documentos.
Eu: veja bem, nossa banda está começando agora, temos muitas dificuldades, queremos muito nos apresentar, blá, blá, blá...
Moça: tá bom, essa será a única vez que abriremos exceção, por conta de vocês serem de SC, estarem aqui e tudo mais. Mas tem uma condição: vocês só receberão o cachê depois, quando enviarem o contrato, ok?
Eu: claro, sem problema, vocês que mandam, queremos subir no palco e tocar, mostrar nosso trabalho, o dinheiro é o de menos.

Tinha que falar aquilo, pois com o show feito, tinha certeza que pagariam, seria justa causa. O problema é que tive que torrar o cartão de crédito com hotel, alimentação e transporte, mas já era praxe, a grana sempre entrava depois, esse é o mundo do independente.

No final das contas, fizemos um baita show, vendemos cd’s, trocamos idéias com diversas pessoas e o resultado foi muito bacana.
A estrutura que colocam pra bandas é muito boa. O técnico de som é maravilho, um dos melhores que já trabalhei. Até o camarim, raro nessas excursões, era ótimo.
Saímos de lá e fomos à busca de um hotel, perto da rua Augusta (não pensem besteira), rua onde fica o Sarajevo, bar que tocaríamos no próximo dia.

E agora, acha hotel bom e barato. Parecia uma procissão, parávamos em tudo que era lugar pra ver o preço, pra ficar dentro do orçamento. Nesta hora, umas 23h, o pessoal já estava bem cansado, sem paciência, mas achamos. Comemos um cachorro e fomos dormir. Pior que quando parávamos, em qualquer lugar de SP, vinha uma criança pedir dinheiro, coisa triste, centenas. Essa é a  vida.

No dia seguinte, acordamos, o Jean foi atrás de sebo, o Thiago com auxílio do demonho e Cassiano, atrás de peças de carro, o restante ficou dormindo. De tarde fomos atrás de instrumentos musicais, quer dizer, quase todos, o Jean continuou nos sebos. Não lembro bem, mas acho que o Jaguarito ficou na casa de um brother dele, pra nossa sorte, assim conseguimos dormir mais tranqüilos.

Começo da noite, fomos pro Sarajevo, passamos o som, batemos um papo com o proprietário, pessoa gente boa, e por volta das 23h começamos a tocar. Foi um show muito legal, com um público interessante. Vendemos alguns CDs neste dia.
Terminou o show, pagamos a conta das bebidas, que foram várias, e voltamos pro Hotel dez estrelas. Lembro que a garagem onde ficava a van era um transtorno, uma hora só pra conseguir guardar o veículo.

No outro dia, uma quinta, levantamos, almoçamos e fomos a MTV. Eu havia conversado com algumas pessoas e marcado um possível encontro. Fomos todos lá. Uma menina nos recebeu, trocamos uma idéia, deixamos DVD, cd’s e fomos embora. Nunca mais fizemos contato. Até tentei, mas não rolou interesse por parte deles. Na real, não estão nem aí.
Saindo de lá, fomos, é claro, ver instrumentos musicais. O Jean foi pra outro lugar, acho que visitar sebos.

Final da tarde nos encontramos e rumamos para o Ton Ton Jazz, um bar que fica em Moema. Chegamos lá e ficamos admirados com o local, uma estrutura boa, um som de primeira. Naquela noite a SSC tocou com outra banda, uma banda cover. Foi bom, assim foi possível tocar nossas canções sem se preocupar com o tempo de show. Isso sempre foi um problema para as bandas autorais.
Era uma casa tipo o Armazém Vieira. Subimos no palco meio cabreiros, pensando: hoje vai ser uma merda, o público não vai topar. Mas que nada, foi um bom show e o público gostou, aplaudiu e dançou. Lembro que tinha uma mesa com uma família, com crianças, inclusive, e eles fizeram um baita barulho. Aquela foi a noite que mais vendemos cds. Foi naquela noite que vendemos um cd a R$ 100 reais, o mais valorizado da história da banda. Teve um gringo que adorou o show e me deu R$100, eu pedi pra esperar que iria dar o troco e ele não aceitou, daí não fiz muita força, é claro.

Como era o último dia, resolvemos curtir o show da outra banda, que parecia o Bon Jovi. Uma dose aqui, uma cerveja ali e nos divertimos um bocado. O Jean era o mais animado, dançava, pulava, e cantava. O Jaguarito já estava na van, ranzinza, pedindo pra ir embora. Não tinha jeito, tínhamos que esperar pra fechar a porta.

Terminado o show, vamos fechar a portaria, ver quanto rolou pra dividir entre os artistas. Papo vai, papo vem, e o excomungado do vocalista da outra banda me diz:
Excomungado: ó, aqui nós trabalha da seguinte forma: quando a pessoa entra na casa, nós pergunta que show ela vem assistir, e repassamos o couvert pra banda citada.
Eu olhei pra ele e disse: isso só pode ser piada!
Excomungado: não, estou falando sério.
Nisso ele chamou a gerente, a mãe dele, uma besta quadrada que confirmou tudo. Daí fechou o tempo, faltou pouco pra grudar no pescoço dos dois. Respirei, argumentei (como gosta de dizer o Jean) e relaxei.

Não chegamos a um consenso, não tinha como. Deram-me uma parte do couvert, um pouco mais, dentro da ótica deles e fomos embora, todos putos e o Jean bêbado, que ficou sabendo(entendeu) só no outro dia. Acho que levamos R$ 300 pilas, um negócio assim. Ainda bem que vendemos um cd a R$ 100.

Na volta pro Hotel, o Dr. enxaqueca, Jaguarito, quase grudou no pescoço do Jean, que estava feliz, fazendo festa e o Jaguara querendo dormir. O demonho só falava: “não vomita na Van, seu demonho”. Ele é uma pessoa sensível.
Chegamos ao hotel, uma hora pra guardar a van e fomos dormir. Acordamos e voltamos pra Floripa, tudo certo, felizes pela experiência.


p.s. falei pouco do Cassiano, mas ele deu uma baita força pra nós. Tudo bem que incomodava pacas, mas é um grande parceiro. Só ele pra ter paciência com o Thiago e suas peças de carro velho.

p.s. o Jean estava todo bobo por esse show no SESC, porque quem selecionou a SSC foi Pedro Alexandre Sanches

p.s. usarei este espaço para contar algumas histórias de viagens da ssc por aí!