domingo, 28 de agosto de 2011

Scarpelli: salão de festa do Avai

Hoje acordei cedo, por volta das sete horas da manhã. Estava muito feliz, sabia que às dezoito horas tinha uma festinha lá no estreito, onde sempre me divirto muito. Não deu outra, estava de arrebentar, que diga o Willian, meu grande amigo.

Por volta das nove horas, alguns companheiros me chamaram para assistir um vídeo do dono do salão da festa, e segundo eles, era para que chegássemos sabendo onde pisar, como e com quem dançaríamos. Eu e Willian não fomos, ficamos para assistir a fórmula 1, o que pra nós era muito mais interessante, principalmente com o Bruno Senna largando em sétimo, se bem que fez besteira logo na largada, bateu em outro carro. É como esses times pequenos que tem por aí, ganham alguns jogos e acham que já estão na libertadores, que vão atropelar qualquer um.
Logo chegou o meio dia e resolvemos almoçar. Nem assistimos o Globo Esporte, não queria saber de futebol naquele momento, não vimos necessidade, a festa era só as dezoito e segundo o Willian, naquele pequeno salão é fácil de jogar.
Depois do almoço, por volta das duas da tarde, lá vieram eles com papo de palestra, que tinham mais um vídeo pra passar, queriam mostrar alguns passos dos dançarinos do estreito, a marcação, finalização. Eu olhei pro Willian, ele olhou pra mim e disse: não né, deixa a gente curtir a temperatura máxima.
Com o fim da palestra, alguns companheiros se juntaram a nós e começamos assistir um joguinho na TV, Flamengo e Vasco. Puta merda, que jogo ruim, fraquíssimo. Nem parecia dois times brigando pela ponta da tabela. Perguntei pro companheiro Lincoln como foi palestra e ele disse que ficaram contando piada, que o professor faltou e não assistiram vídeo algum. Melhor pra eles.
Quando já eram dezessete horas, vieram nos chamar para o ônibus. Eu disse pra eles que estava cedo, não queria varrer o salão, mas como insistiram, fomos todos juntos, fazendo um sambinha, jogando um dominó e apostando umas cachetas. Olha, ganhei uns quinze pilas. O Willian ganhou trinte e sete reais, tava todo faceiro, tava dizendo que iria arrebentar na festa, que hoje não tinha pra ninguém.
Chegamos ao salão. O nome era Orlando Scarpelli. Fomos pela parte da frente, vimos um bocado de gente, todos de preto, parecia um show de heavy metal. Eles nos vaiavam, xingavam e aquilo nos dava força. Logo que chegamos na entrada de trás, num cantinho bem apertado, começamos a ver alguns parceiros, todos de azul, cor do céu, a coisa mais linda.
Exatamente às dezoito horas começou a festa. Claro, com respeito aos donos do salão, deixamos eles bem à vontade, demos um bom espaço, estavam em casa e muitos estavam lá para vê-los. Pagaram muito caro!
Durante toda a semana, todos eles, aqueles de preto que cruzamos na entrada do salão, diziam que seria uma grande brincadeira, que nos chamariam pra dançar, uma, duas, três, quatro, até cinco vezes, que tinham a melhor equipe, o melhor professor, a melhor pista e estavam mais bem posicionados.

Dentro de toda essa pressão e falácia, deixamos um tal de Ygor tirar a primeira dança, queríamos testar aquele pessoal. Foi muito chocho, precisou da ajuda do nosso companheiro Felipe. Em seguida, nosso auxiliar técnico, que ao lado da pista nos passava orientações, disse pro companheiro Pedro Ken fazer um pênalti e forçar a segunda dança pro lado deles, queria sentir mais um pouco a competência daquele povo. Não adiantou, Julio Cesar, do pelotão de frente do time de preto, caiu de bunda no meio do salão, coisa horrorosa diria o amigo Roberto Alves.
Naquela oportunidade nosso auxiliar disse: Lincoln, mostra um passo para esses pregos. Não deu outra, nosso black-boy, Arlan, tocou o terror pelo lado direito e encaixou uma música na medida para o nosso camisa dez deixar sua marca e pedir silêncio. 
Antes do pessoal parar para descansar, principalmente eles, que estavam exaustos, aquele menino que havia caído de bunda, de tanto encher o saco, conseguiu enfim encaixar um passo, e mais uma vez com a ajuda do Felipe. Foi engraçado, no vestiário o Felipe dava risada e disse: o cara teve que tentar três vezes.
Tomamos água, e olha que aquela água tava ruim, e voltamos pro salão. Eles vieram loucos, loucos, não sabiam que passo dar, os únicos dois que tinham no repertório já haviam executado e nem cristo dava jeito de acertar outro. Se tivessem assistido a dança dos famosos no Faustão, teriam chegado mais perto.
Nosso garoto, formado na categoria litle-funk, o Arlan, estava endiabrado, foi pra cima e não tinha pra ninguém. Numa daquelas corridas arrebatadoras, foi na linha de fundo do salão e cruzou para o Willian, o maior goleador do pedaço, empatar a disputa. Foi do seu melhor jeito, na raça.

Depois que empatamos, os donos do salão ficaram “demonhados”, corriam pra um lado, corriam pro outro, enlouquecidos. O treinador deles estava rouco de tanto berrar: balé não, balé não, porra!
Num piscar de olhos o juiz marcou uma falta a nosso favor. Lá veio o Romano cobrar. Ele não estava bem, precisa ensaiar mais tango pra jogar em nosso time. Com a perna esquerda ele manda o som. Willian, como se estivesse no quintal de sua casa, dá um lindo giro de cabeça e sai correndo pra comemorar a vitória. Nosso pessoal de azul berrava: aha, uhu, o Willian é matador!
Horas antes ele me confessou: deixa quieto, nunca perdi uma disputa no estreito, adoro dançar naquele lugar. Vou soltar o batoré.
Final das contas vencemos por três a dois, sem grandes problemas e com a mesma eficiência de sempre, pois aquele é nosso salão de festa.
Muito prazer, meu nome é Avai!

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