sexta-feira, 17 de junho de 2011

SP: uma viagem de risco

Em 2007, recebi uma ligação do SESC Pompéia dizendo que a Samambaia tinha sido selecionada para participar do projeto Prata da Casa, resultado de uma visita um ano antes, onde deixei vários materiais da banda. Na verdade, não acreditava que analisariam, fui surpreendido e lá fomos nós.

Na viagem, além da banda, eu, Thiago, Daniel, Jean e Jaguarito, foram juntos Cassiano Ferraz, fotógrafo e Robson, mas conhecido como “demonho”, nosso querido motorista.

Logo que fiquei sabendo do dia da apresentação e do cachê, providenciei de fechar mais dois shows em Sampa, para aproveitar a oportunidade. Além do SESC, a SSC tocou no bar Sarajevo e no Ton Ton Jazz. Nem te conto!

Lembro que na ida todos estavam dormindo porque era madrugada, inclusive o demonho, que acordou quando bateu num cone, dando esporro na banda porque estávamos dormindo. As vezes acordávamos e ele estava com a poltrona deitada assistindo filmes no dvd, que ficava na parte de trás. Mas tudo certo, estamos aqui, vivos, pra contar esses causos. O preço do demonho é imbatível, e no underground isso conta muito.

Para tocar no SESC tinha toda uma burocracia, liberação do ECAD, da Ordem dos Músicos, uma nota fiscal de pessoa jurídica que trabalha com cultura, um terror. É claro, a banda não sabia da missa a metade, nem tinha porque contar, o negócio deles era subir e sentar o sarrafo, sem se preocupar com os pormenores.

Tive que dar um laço na ordem dos músicos. Assinei uma declaração dizendo que os músicos, logo após o show, fariam a carteirinha da organização, só assim para liberarem nossa participação. O Ecad não tinha jeito, tivemos que pagar uma graninha pra eles, mesmo sendo uma apresentação com nossas músicas, fazer o que. O contrato, esse estava enrolado. Todos os contratos sociais de empresas que eu mandava, o SESC negava, não tinha jeito e a data estava cada vez mais próxima. Mesmo sem essa garantia, nós fomos pra lá, sem dinheiro, na esperança de tocar. Eles (músicos) não sabiam disso, agora estão sabendo.
Chegamos em SP, no SESC, lá vou eu procurar a diretora. Encontro a moça, uma pessoa atenciosa, que me diz:

Moça: André, vocês não podem tocar, o contrato não pode ser feito.
Eu pensei: Puta merda! Depois falei: veja bem, viemos de Floripa, nosso sonho é tocar no SESC Pompéia, etc, etc e etc.
Moça: olha, vou lá em cima conversar, vocês esperam, deixem os instrumentos no carro. Acho que vai ser difícil.

Voltei pra falar com os guris, ele todos felizes, deslumbrados com o lugar, que é lindo, e eu disse: tá tudo certo, só temos que esperar um pouco pra começar a passagem de som. Vai ser massa!
Eu ficava naquela, ia lá, voltava pra cá e nada. E eles perguntavam: e aí, algum problema? Não, tudo certo, tudo nos conforme.

Acho que o show estava marcado para às 19h, quando deu 17h30min, a dona moça me chamou lá em cima.

Moça: André, você sabe que vocês não cumpriram os requisitos. O pessoal aqui acha que não podemos deixar a SSC tocar, não estão com todos os documentos.
Eu: veja bem, nossa banda está começando agora, temos muitas dificuldades, queremos muito nos apresentar, blá, blá, blá...
Moça: tá bom, essa será a única vez que abriremos exceção, por conta de vocês serem de SC, estarem aqui e tudo mais. Mas tem uma condição: vocês só receberão o cachê depois, quando enviarem o contrato, ok?
Eu: claro, sem problema, vocês que mandam, queremos subir no palco e tocar, mostrar nosso trabalho, o dinheiro é o de menos.

Tinha que falar aquilo, pois com o show feito, tinha certeza que pagariam, seria justa causa. O problema é que tive que torrar o cartão de crédito com hotel, alimentação e transporte, mas já era praxe, a grana sempre entrava depois, esse é o mundo do independente.

No final das contas, fizemos um baita show, vendemos cd’s, trocamos idéias com diversas pessoas e o resultado foi muito bacana.
A estrutura que colocam pra bandas é muito boa. O técnico de som é maravilho, um dos melhores que já trabalhei. Até o camarim, raro nessas excursões, era ótimo.
Saímos de lá e fomos à busca de um hotel, perto da rua Augusta (não pensem besteira), rua onde fica o Sarajevo, bar que tocaríamos no próximo dia.

E agora, acha hotel bom e barato. Parecia uma procissão, parávamos em tudo que era lugar pra ver o preço, pra ficar dentro do orçamento. Nesta hora, umas 23h, o pessoal já estava bem cansado, sem paciência, mas achamos. Comemos um cachorro e fomos dormir. Pior que quando parávamos, em qualquer lugar de SP, vinha uma criança pedir dinheiro, coisa triste, centenas. Essa é a  vida.

No dia seguinte, acordamos, o Jean foi atrás de sebo, o Thiago com auxílio do demonho e Cassiano, atrás de peças de carro, o restante ficou dormindo. De tarde fomos atrás de instrumentos musicais, quer dizer, quase todos, o Jean continuou nos sebos. Não lembro bem, mas acho que o Jaguarito ficou na casa de um brother dele, pra nossa sorte, assim conseguimos dormir mais tranqüilos.

Começo da noite, fomos pro Sarajevo, passamos o som, batemos um papo com o proprietário, pessoa gente boa, e por volta das 23h começamos a tocar. Foi um show muito legal, com um público interessante. Vendemos alguns CDs neste dia.
Terminou o show, pagamos a conta das bebidas, que foram várias, e voltamos pro Hotel dez estrelas. Lembro que a garagem onde ficava a van era um transtorno, uma hora só pra conseguir guardar o veículo.

No outro dia, uma quinta, levantamos, almoçamos e fomos a MTV. Eu havia conversado com algumas pessoas e marcado um possível encontro. Fomos todos lá. Uma menina nos recebeu, trocamos uma idéia, deixamos DVD, cd’s e fomos embora. Nunca mais fizemos contato. Até tentei, mas não rolou interesse por parte deles. Na real, não estão nem aí.
Saindo de lá, fomos, é claro, ver instrumentos musicais. O Jean foi pra outro lugar, acho que visitar sebos.

Final da tarde nos encontramos e rumamos para o Ton Ton Jazz, um bar que fica em Moema. Chegamos lá e ficamos admirados com o local, uma estrutura boa, um som de primeira. Naquela noite a SSC tocou com outra banda, uma banda cover. Foi bom, assim foi possível tocar nossas canções sem se preocupar com o tempo de show. Isso sempre foi um problema para as bandas autorais.
Era uma casa tipo o Armazém Vieira. Subimos no palco meio cabreiros, pensando: hoje vai ser uma merda, o público não vai topar. Mas que nada, foi um bom show e o público gostou, aplaudiu e dançou. Lembro que tinha uma mesa com uma família, com crianças, inclusive, e eles fizeram um baita barulho. Aquela foi a noite que mais vendemos cds. Foi naquela noite que vendemos um cd a R$ 100 reais, o mais valorizado da história da banda. Teve um gringo que adorou o show e me deu R$100, eu pedi pra esperar que iria dar o troco e ele não aceitou, daí não fiz muita força, é claro.

Como era o último dia, resolvemos curtir o show da outra banda, que parecia o Bon Jovi. Uma dose aqui, uma cerveja ali e nos divertimos um bocado. O Jean era o mais animado, dançava, pulava, e cantava. O Jaguarito já estava na van, ranzinza, pedindo pra ir embora. Não tinha jeito, tínhamos que esperar pra fechar a porta.

Terminado o show, vamos fechar a portaria, ver quanto rolou pra dividir entre os artistas. Papo vai, papo vem, e o excomungado do vocalista da outra banda me diz:
Excomungado: ó, aqui nós trabalha da seguinte forma: quando a pessoa entra na casa, nós pergunta que show ela vem assistir, e repassamos o couvert pra banda citada.
Eu olhei pra ele e disse: isso só pode ser piada!
Excomungado: não, estou falando sério.
Nisso ele chamou a gerente, a mãe dele, uma besta quadrada que confirmou tudo. Daí fechou o tempo, faltou pouco pra grudar no pescoço dos dois. Respirei, argumentei (como gosta de dizer o Jean) e relaxei.

Não chegamos a um consenso, não tinha como. Deram-me uma parte do couvert, um pouco mais, dentro da ótica deles e fomos embora, todos putos e o Jean bêbado, que ficou sabendo(entendeu) só no outro dia. Acho que levamos R$ 300 pilas, um negócio assim. Ainda bem que vendemos um cd a R$ 100.

Na volta pro Hotel, o Dr. enxaqueca, Jaguarito, quase grudou no pescoço do Jean, que estava feliz, fazendo festa e o Jaguara querendo dormir. O demonho só falava: “não vomita na Van, seu demonho”. Ele é uma pessoa sensível.
Chegamos ao hotel, uma hora pra guardar a van e fomos dormir. Acordamos e voltamos pra Floripa, tudo certo, felizes pela experiência.


p.s. falei pouco do Cassiano, mas ele deu uma baita força pra nós. Tudo bem que incomodava pacas, mas é um grande parceiro. Só ele pra ter paciência com o Thiago e suas peças de carro velho.

p.s. o Jean estava todo bobo por esse show no SESC, porque quem selecionou a SSC foi Pedro Alexandre Sanches

p.s. usarei este espaço para contar algumas histórias de viagens da ssc por aí!

6 comentários:

  1. Cuida que a ordem do músicos virá atrás de vocês. kakakaka
    Boa estória!

    Luiz

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  2. Massa pra caralho!!!

    Thiagol 600

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  3. ahahahahahahahhahaha
    caralho, não fiquei indo só a sebos!!!

    mas fiquei realmente MUITO bêbado. vomitei na frente do bar, lembra? e acho que na van também, não?!

    agora, faltou dizer que o demonho via filmes pornôs com o banco deitado e com o carro em movimento.


    andré, querido, não sabia dessa, de que quase não tocamos lá por causa da nota do osvaldo... caraca, hein?! é nessas horas que tenho que te fazer um elogio público: és um guerreiro!!!

    (aliás, por estes dias eu e os meninos, aqui no rio, lembramos de ti, e da tua força como produtor, em vário momentos...)

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  4. aliás, andré, altere na configuração dos comentários, o item sobre o códigos... é chato ter que escrever um código para poder deixar um coments aqui...

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  5. Jean, eu falei dos filmes do demonho, só não falei que eram pornôs..hehehe
    Obrigado pelo elogio... na verdade, nossas viagens sempre foram assim, na guerra, sem grana, mas com muita vontade por parte de todos.
    Também posso dizer que tu sempre estavas pra briga, sem frescura, pronto pro assunto.
    Ainda vou contar de outras que fizemos, aquelas com o mondeo a 160km/h pra chegar em tempo da passagem do som. Lembra do show em porto onde vocês olhavam os radares e eu acelerava? abs

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  6. Jean, vou ver se consigo, sou prego nisso!

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